Todo mundo concorda que para haver o mal, também há de haver o bem. Este é o mais antigo exemplo da lei universal das naturezas opostas. Se essas forças não mantivessem seu eterno duelo mortal, o mundo não seria mundo.

Eu parto da seguinte premissa: O mal nunca nasce conosco, nós nascemos bons e o mundo nos torna maus. Na maioria das vezes a semente é plantada de uma forma traumática no dilúculo da vida, e manifestada posteriormente, no crepúsculo da mesma. O mal nasce do trauma, nasce da dor, de sentimentos negativos aos quais estamos expostos diariamente, é uma questão de sorte. Só quem nunca foi machucado pela injustiça e pela maldade de alguém é que acha estranho o impulso da vingança, da retribuição. Quem já foi assaltado à mão armada conhece bem o ódio que toma conta da gente, diante da impossibilidade de reagir à altura. A lei do olho por olho e dente por dente é a coisa mais espontânea, no coração do homem natural. A vingança é a única forma de libertarmos o demônio que está nos atormentando, mas a questão é: Depois da vingança você voltará a ser o mesmo? Voltará a ser bom? Isso é muito raro de acontecer por uma simples questão: A vingança não vai amenizar a sua dor, o demônio vai continuar a te atormentar, depois de tanto tempo te torturando, ele não vai querer te largar tendo visto seu potencial. A partir daí, qualquer coisinha que lhe façam, será motivo para vingança.
Não sou hipócrita, tão menos estou aqui para fazer apologia ao mal. Só que uma coisa eu posso afirmar; se algum dia(Deus me livre) um sujeito mata alguém da minha família, eu vou caçá-lo até a morte, eu não confio na justiça, não aceitaria que uma pessoa assim continuasse viva, tendo tirado de mim tudo que há de mais importante. Agora eu me pergunto: Estou sendo má? Sim e Não(estarei fazendo a MINHA justiça pois não confio nessa justiça parca e covarde no Brasil). É um ato de amor, vingar a morte de um ente querido? Sim e Não. Este é um ato de amor e de ódio. Portanto caímos em contradição... A justiça no Brasil, é RIDÍCULA, é por este motivo que pessoas(até mesmo pessoas que no fundo são boas, mas estão perdidas e atormentadas) matam umas as outras, pois sabem perfeitamente que sairão impunes: 1. Por que a vida não tem valor algum para as autoridades, é só mais uma em meio a 180 milhões de brasileiros(dados do IBGE), a menos é claro, que a pessoa represente uma figura pública, aí sim, a justiça se faz presente(especialmente para as cameras e microfones).
2. Por que a lei é infringida e desrespeitada inclusive por aqueles que supostamente deveriam defendê-la. 3. Por que na maioria das vezes existe a concessão de habeas corpus e diminuição de pena, mas é claro, que isso só se aplica aos poderosos que conhecem o direito à indenização, caso não haja uma justa causa, apenas evidências.
*Aproveito a deixa, para indicar um filme EXCELENTE(um dos melhores que já vi) para quem ainda não viu, chama-se CÓDIGO DE CONDUTA(Com Gerard Butler e Jamie Fox).
Outro dia, fui assaltada a caminho do trabalho. Eu estava em um dos últimos assentos do ônibus lendo livro quando o rapaz(que tinha subido na Rocinha - que até o presente momento ainda não foi pacificada - com uma camisa de escola pública, embora fosse claro como a água, que ele não tinha idade para ser estudante, deixaram-no passar) colocou a arma(depois de ter mostrado que a mesma estava carregada)e chegou a soltar a trava de segurança. Senti um ódio nascer dentro de mim(pela primeira vez na vida, nunca antes havia sido assaltada...nas outras vezes eu reagi pois o assaltante estava desarmado), um ódio que jamais sentira antes. Ódio da covardia do rapaz, que obviamente sentia-se o valentão - como qualquer idiota que porta uma arma de fogo. Ódio desse maldito sistema que fornece armas aos cidadãos sem porte legal. Ódio do meu medo, por não ter metido a mão entre o cano e o tambor quando ele abriu para me mostrar que estava carregada(desse modo ele não poderia encaixar um no outro e atirar). Ódio de mim mesma, por saber que se eu estivesse armada eu jamais teria coragem de matar o filho da puta por mais que ele merecesse. Ele levou meu cordão de família, meus anéis(tudo de ouro) relógio, celular, dinheiro...coisas materiais que tinham um histórico familiar(colar e anel)que para mim significavam muito, e em breve seriam derretidas e vendidas. Meu o ódio era tanto, que minhas lágrimas pareciam cáusticas. Porém, quando o rapaz saltou do ônibus(isso já na barra) eu olhei nos olhos dele, ele viu meu ódio, e eu vi nos olhos dele um pedido de desculpas(como o olhar de um soldado nazista apontando a arma para o judeu e dizendo "eu só estou seguindo ordens" - Claro,tudo nas suas devidas proporções). Na hora aquilo não me consolou e nem amenizou a minha dor por uma perda MATERIAL. Agora imagine se essa perda não fosse material? Se fosse a vida de alguém? De alguma criança desprotegida, de um animal abandonado, de um idoso indefeso...PIOR: E se fosse alguém da minha familia? Imagine a minha dor, a minha agonia, a minha impotência. Não gosto nem de imaginar que meu sangue já esquenta. Entretanto, como mencionei, os olhos que pediam desculpas não apaziguaram a minha ira no momento, mas depois(algumas semanas depois) eu pude voltar a esse dia e lembrar do olhar do rapaz, e hoje consigo analisar friamente. Seus olhos diziam claramente que ele JAMAIS tinha a intenção de me matar, e jamais o faria. Ele estava com medo. Ele devia estar sendo ameaçado, devia estar devendo para algum chefão do tráfico(não que isso justifique o que ele fez). Me senti mal por ter sentido tanto ódio(eu sei que isso é normal, afinal também faço parte desta raça medíocre e nefasta que é a raça humana) e a despeito do que senti no dia, hoje não tenho vontade de me vingar. Pensei em subir a rocinha com a policia(como se isso fosse adiantar em alguma coisa) Pensei em ir atrás dele... Tudo LOUCURA. Loucura causada pelo ódio e pelo trauma. Foi aí que eu percebi o modus operandi do mal na cabeça das pessoas. Ele só age em mentes perturbadas e traumatizadas(em crianças por exemplo, os traumas são irreparáveis), o mal não tem acesso ao nosso coração, apenas à nossa cabeça,ou seja ele pode nos FAZER de nós, pessoas más, mas não pode TORNAR-NOS pessoas más. É por isso que nunca devemos subestimar o mal, por que ele age dentro da nossa cabeça, e a nossa cabeça é quem PENSA, portanto o mal é inteligente, e para o coração bom é difícil convencer a cabeça de que a mesma também é boa, enquanto ela PENSA que é má.

O mal é um fato. E ninguém é 100% bom, todos nós temos defeitos, mas o importante é tentar ser cada vez melhor. Afinal, é bom ser bom =)
Será que tinha Eva consciência de estar condenando toda a humanidade ao cair em tentação(É claro que não vou me ater a folclóres religiosos para defender a minha opinião, este é apenas um exemplo), e condenaria a nós MULHERES a fama da ruína dos homens? hehe
Continua na próxima edição.
Ósculos e Amplexos,
J.
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