quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A psicologia do mal I

"Os males que não são percebidos são os mais perigosos" - Erasmo de Roterdão

Afinal... o que é o "mal"? Seria Deus censurando a Si próprio? Seria a natureza tendenciosa da humanidade? Em qual momento, na vida de um ser humano, o mal aflora? Existem parâmetros para a análise da maldade?

Antes de mais nada, devemos analisar os valores sócio-culturais, valores estes que são responsáveis pelas diretrizes de nossos pensamentos, que são os alicerces de nossas atitudes, que são significadores de nosso caráter, e parte da nossa persona. 

Não existe o mal desprovido de um fundamento. A análise deste mal vai variar de acordo com os valores sócio-culturais de quem o está analisando.

Deve-se considerar também os parâmetros adotados pelo homem contemporâneo [leia-se: hipócrita, humanista (...), livre... etc...]. Antigamente, toda e qualquer conclusão era sumariamente estóica, as coisas eram o quê eram. Hoje em dia as coisas são o quê são mas também podem ser outra coisa... Depois que Einstein divulgou sua teoria da relatividade, tudo passou a ser relativo. A relatividade virou um pretexto para as pessoas fugirem da realidade, camuflarem a verdade, e despirem-se da culpa que pesaria-lhes a consciência. Para tudo, temos a resposta: "mas isso é relativo."  NÃO! Certas coisas e feitos não são relativos, muito menos explicáveis! Nada obstante, é o fator sócio-cultural que analisa a gravidade destes feitos. 

A grande verdade do homem contemporâneo é que no decurso dos ultimos dois séculos, ele passou a reconhecer sua condição inferior perante a Deus(...), suas inúmeras fraquezas, suas limitações, e passou a aceitar tudo isso. De modo que os personagens "bonzinhos" épicos e filantrópicos tornaram-se obsoletos e "chatos" enquanto que os anti-heróis passaram a ser admirados e idolatrados por possuírem características humanas, falhas, e maior afinidade com a natureza do homem que é intensa, extremista, ética(...), perturbada, frágil, e principalmente: que coloca seus propósitos acima de tudo e de todos. Não sei se vocês vêem Dexter, mas ele é um perfeito exemplo do quê eu escrevi neste parágrafo... Ele é tido como um "herói" por muitos, e ele é um serial killer. 

Consideremos a psicologia de Dexter. Um menino de três anos, vê a mãe ser assassinada dentro de um contâiner em Miami, e mergulhado em seu sangue, presencia um ato de extrema maldade em uma idade incontestavelmente prematura. Passam-se os anos, e seu pai adotivo descobre essa tendência maléfica de Dexter, e passa a coordenar as atitudes de Dexter criando códigos de conduta, ou seja impondo condições e dando "licenças" para o filho matar. Este "código" consiste primeiramente em NUNCA MATAR UM INOCENTE, ou seja matar apenas os assassinos hediondos, estupradores, corruptos etc... Mas por quê Dexter é considerado um "herói" se ele mata as pessoas sem qualquer traço de arrependimento? Porque a tendência assassina de Dexter na verdade, reflete o que todo homem deseja: fazer o bem nascer do mal... Mas quê bem podemos extrair da morte de uma pessoa? A possibilidade de ela nunca mais fazer o que fez, ou alívio de expressar nossa indignação? Vai depender do ponto de vista, mas eu fico com a segunda opção(aqui sim, existe a relatividade). É comum o desejo itinerante de matar alguém, todo mundo um dia já sentiu esse desejo(remova o véu da hipocrisia, e reconheça que não estou falando nenhuma inverdade, por pior que isso possa parecer). Eu por exemplo, tive vontade de TORTURAR aquela garota croata que comprazia-se em afogar os cachorrinhos, no momento em que eu assistia aquele video que ela gravou cometendo esse ato de maldade. Eu chorei(chorei mesmo!) de ódio dela. O quê eu percebo com isso, é que todos nós justificamos um ato de maldade em cima de outro, e todos os males que cometemos recaem sobre o nosso instinto de fazer o bem prevalecer. Nós seres humanos, somos muito passionais, e frequentemente tomados pelo calor do momento. Devemos ter muito cuidado com isso por que a possibilidade de arrependimento é enorme. Deveras, não sei o quê aconteceria se eu encontrasse aquela croata durante a semana que decorreu depois de eu ter visto o video... Não sei o quê é tirar a vida de uma pessoa(e espero nunca saber), mas sei que ia querer bater MUITO nela. Talvez eu não a matasse, mas certamente eu a faria sofrer. Seria ainda mais certo, o meu remorso posterior(embora eu jamais duvidasse que ela fosse merecedora do mal que eu teria causado à ela.). Outro exemplo: O quê eu faria(Ai de mim!) se um cara torturasse minha mãe e depois a matasse? Eu o mataria se pudesse, ÓBVIO! Pelo simples fato de eu ser humana e passiva às emoções do momento. Seria uma maldade? Seria. Existiu um motivo? Existiu. Esse motivo justifica o ato? Não. Não existe relatividade na maldade. A maldade está presente no ser humano, não se pode negar isso, e ela apenas vem à tona quando temos sentimentos à flor da pele(seja este sentimento de medo, dor, raiva, vingança... Normalmente é um sentimento que nos incomoda...). 

Sejamos remetidos à Segunda Guerra Mundial, ao maior genocídio da História da humanidade. Não podemos atribuir todo mal deste assassinato em massa à Hitler. Afinal, quem é mais hediondo? Hitler, que tinha ciência da maldade que lho acometia, ou as marionetes por ele coordenadas no Terceiro Reich? Eu, mais uma vez, optaria pela segunda. Porque, acredito eu, que a maldade contida em Hitler era estratégica e não destrutiva(no que respeita a individualidade dele). Ele era perverso, mas não era burro! Muniu suas armadas militares com néscios ignorantes que serviam ao seu propósito, e que a despeito dele próprio, tinham o prazer em matar(com as próprias mãos). Hitler não devia ter o prazer de matar, o tinham aqueles que a mando dele, realizaram aqueles atos tão desumanos. Hitler era a perversidade insípida e indiferente, aquela que implantava a semente do mal nas pessoas fracas e permanecia incólume aos efeitos que esses crimes causavam no eu psicológico de quem os executava, assim sua maldade permanecia estática e livre de qualquer culpa, uma vez que ele próprio não via as pessoas agonizando, sofrendo e sendo torturadas em suas mãos. Hitler era perverso, mas não era um facínora, o eram os componentes de sua patente que o endeusavam, e que eram capazes de admirar a atrocidade de sua política... Estes são crueis e burros(a pior combinação destrutiva de todas que alicerçam a maldade) além de fanáticos inexoráveis. Foi provado que a rigidez, a precisão, e a conivência para com a ordem de um superior, é uma característica do povo germânico. Não lhes importa o que estão fazendo, desde que estejam seguindo ordens. Isso é bom e ruim, vai depender de quem os está comandando. No entanto, podemos observar a maldade vigente pois eles não se compadeciam dos pobres seres que molestavam, pior que isso: apraziam-se em torturá-los. Quando Hitler plantou a semente do mal nesses dejetos humanos, ele sabia que a partir daquele momento não seria responsável pelo desenvolvimento dela(semente), que unida ao contingente de maldade já presente no portador, iria evoluir e tornar-se-ia destrutiva... Uma pessoa "boa" não deixaria que essa semente evoluísse, ainda que o porte dela se lhe fosse impingido. Muitos germânicos discordavam dessa política e fugiram buscando asilo. Ou seja: Não há justificativa cultural.

Mas esse contingente de maldade já existia ou foi desenvolvido ao longo da vida da pessoa de acordo com suas experiências?

Continua no próximo post...  
Ósculos e Amplexos,
J.

 
 


Um comentário:

Yon disse...

Belo Texrto! Embora eu não concorde em alguns pontos, gostei da forma como você abordou a questão da maldade.
Abraços,


Yon